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Qual é o seu superpoder que passou anos escondido como um defeito?

Atualizado: 18 de ago. de 2023

São 4h da manhã e não consigo mais dormir. No meio da madrugada caiu a ficha e entendi entendi que um dos meus superpoderes estava desde sempre lá, escondido embaixo de um monte de julgamentos e dores alheias. Era “só” uma questão de entender que os feedbacks estavam turvos e que eu mesma não me percebia, ou ainda não sabia lidar com quem eu sou.


Ontem, no meio de uma conversa sobre o passado lembrei do tom de deboche que vinha nas variações da frase “Você é muito sensível!”. Esse deboche vinha principalmente quando entrávamos em questões emocionais. Hoje consigo perceber que meus interlocutores tinham (e ainda têm) sérias questões com o universo emocional. Evita o assunto. E imagino o quão assustador deveria ser para eles quando eu acessava essas camadas, provavelmente trazia alguma dor ou afeto — muita gente ainda tem medo de ser afetado, principalmente nesses nossos tempos tão "líquidos".


Sabe? O bom de olhar para o passado com gentileza e com os olhos do presente é que fica mais leve quando olhamos de longe, sem a inflamação do momento e sem julgamentos.


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O que me deu esse "click" na conversa de ontem, no entanto, foi um elogio à minha hipersensibilidade física. Sim, é comum que pessoas hipersensíveis manifestem essa característica em mais de um aspecto da vida, como audição, tato, olfato, emoções ou percepção de ambientes e pessoas.


Lá pelos 20 e poucos anos, é que fui entender que eu tinha uma sensibilidade física um pouco fora do trivial e isso parecia interessante para as pessoas que percebiam isso também. Talvez tenha sido o primeiro aspecto “valorizado” da minha sensibilidade e, por ser “tão positivo”, não relacionei essa característica às outras facetas emocionais de ser sensível — que eram tão criticadas e evitadas a todo custo, aliás.


Como eu tentei controlar o meu "defeito"

Foi a todo custo mesmo! Tomei anticoncepcional por anos, “culpando” a minha menstruação, que no princípio era um caos, e minha pele estava explodindo de espinhas.

O ponto aqui é: eu ainda não tinha essa visão holística de causas emocionais x consequências físicas

Na época não me dei conta de que, interrompendo meu ciclo natural, estava contendo as minhas águas (emoções) e me desconectando da minha lua (ciclicidade). O seja, eu estava interditando os acessos à sensibilidade que me era tão julgada e mal vista.


Mais de uma década depois, com os conhecimentos de Psicossomática e todos os estudos relativos ao resgate do feminino, aprendi que aquele “descontrole” atribuído à minha menstruação, provavelmente, era o meu corpo, revoltado, dizendo que a sensibilidade precisava ser acolhida e amada. A pele toda inflamada de espinhas, provavelmente, falava da raiva de não me permitir ser quem eu era e de todos os limites que eram feridos no contexto daquela época.


O útero se contorcendo na menstruação, provavelmente, falavam das minhas dores de não poder expressar o ser criativo que eu era, e que estava sendo "castrado" para se tornar um ser mais “utilitário” e “concreto” para a sociedade — sem contar que eu recebi das minhas antepassadas que menstruar era sofrido, mas também já é uma outra análise sistêmica. Sem culpas, apenas constatações à posteriori, ok ;-)


Outro detalhe é que, nos anos 2000, parecia não haver nenhuma solução para as dores das adolescentes e jovens mulheres. Todos os médicos receitavam anticoncepcionais como a "fórmula mágica" para calar o desconforto. Não se cogitava pesquisar as raízes físicas e emocionais do que se passava nos nossos corpos. Sem levar em consideração de que, além de nos deixar lineares e menos emotivas, ainda trazia um monte de riscos para a nossa saúde física.


Não é para menos que por volta de 15 a 20 anos depois foi um tal de "tirar o remédio" e "resgatar o feminino". Algumas mulheres sentiram saudades de ser mulheres e começaram a investigar as possíveis causas de suas apatias, perda de criatividade, depressão e perda de libido... adivinha só... Fomos quimicamente "castradas", em massa. Ainda bem que foi reversível. Hoje em dia eu não abro mão da potência do meu ciclo por nada. E pasmem, não sofro mais tanto com a minha menstruação. Fizemos as pazes, eu e meu corpo

Desde a infância

Mas vamos dar uns passos para trás? Percebo que os superpoderes se manifestam desde a infância. E, enquanto te conto da minha, te convido a olhar para a sua e investigar onde estavam os seus

Quando criança, eu sentia muitas dores físicas e tinha reações na pele, sem a menor explicação médica. Talvez por isso meus pais tenham me tratado bastante na homeopatia (agradeço bastante por isso, aliás). Ninguém sabia explicar por que aquela criança sofria tanto de dores no corpo e enxaquecas. Não era problema de vista e não tinha praticamente nada de saúde.


E chorava! Ai meu Deus, como chorava! Chorava na mesma proporção em que era muito criativa e empolgada com os detalhes da vida, na mesma proporção em que tinha ouvidos e olhos acolhedores para os excluídos e para os adultos que queriam lhe contar suas histórias. Sempre amei ouvir histórias pessoais.

Mas o que chamava mais a atenção era o choro, já que a delicadeza costuma ser mais sutil

Hoje entendo que os adultos ao meu redor não sabiam lidar nem com as próprias emoções. Como poderiam lidar com uma criança tão sentida?


Era mais fácil mandar parar, tentar controlar, ridicularizar, ignorar… É o que a gente faz com o que a gente não entende ou tem medo de acessar. Não é por maldade. É instinto de sobrevivência — mas ainda acho triste que seja assim.


Hoje consigo enxergar essa dinâmica, mas na época eu também não sabia. Quando criança a gente entende, no subconsciente, que os adultos sabem o que é certo ou errado.

Então “comprei” como verdade de que sentir era feio, assustador e inadequado, que deveria conter aquilo. O clássico “engolir o choro”

Ainda lido com pessoas que têm pânico de choro, ou de falas na esfera dos sentimentos. Afinal, como humanidade, ainda temos muito o que trabalhar em relação a esse assunto. Haja terapia, paciência e conscientização!


Observe quais aspectos eram o caos da sua infância. Quais eram os rótulos que a sua criança recebeu? Vai encontrar ali boas pistas dos seus superpoderes. Geralmente é só mudar o ponto de vista sobre o mesmo aspecto ;-p

O "sucesso"

Na época em que trabalhei com auditoria e consultoria de riscos, era inadmissível ser sensível ou demonstrar alguma vulnerabilidade. Foram 10 disfarçando e controlando esse meu aspecto.

Eu era finalmente uma “mulher séria e útil para a sociedade”

Sim, as pessoas me achavam muito séria. Logo eu! Que hoje em dia sou super elogiada pelo sorriso largo, fácil e espontâneo... cheguei a ouvir o feedback de que era excelente no trabalho, mas que poderia sorrir mais para os meu colegas. Diziam que eu passava um ar de esnobe por não me relacionar tanto.

Cara! Eu estava fazendo um esforço enorme para ser insensível e extremamente racional-cartesiana-pragmática. Não dava para sorrir porque ia cair o meu disfarce

Nos relacionamentos afetivos, curiosamente, tive pares geralmente emocionalmente indisponíveis. E, dos raros sensíveis, ouvi que eu era muito dura. Sim, me fiz dura para sobreviver num mundo duro; fiz duras barragens para conter as minhas águas. Lembra que já nem menstruava mais desde a adolescência?


Observação de terapeuta:

"Como é muito comum em casos de pessoas muito "endurecidas" pela vida, eu não gostava de aromas muito doces. Baunilha, flores, frutados... nem pensar! Só gostava de perfumes amadeirados ou cítricos. Também não usava muitas cores vibrantes. Era um grande universo de cinza, preto, azul e afins... é óbvio que o olho não brilhava, havia virado uma máquina de trabalhar. Muito bem adestrada.


Hoje, como aromaterapeuta, reconheço rapidamente quando alguém passou ou está passando por essas "formações" sociais. E acredite: a nossa percepção olfativa muda muito conforme vamos nos reapropriando de quem somos. Quando vamos voltando a ser donos dos nossos narizes"


A revolução

Mas não adianta! Em algum momento o ser que você é vai gritar dentro de você (se é que já não gritou)

As barragens desmoronam e você ressurge. Mais vivida e amadurecida, na hora certa de lançar mão dos seus superpoderes, a máscara vai começar a se dissolver.

Mais um conselho: preste atenção aos seus sonhos

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Um dia a calmaria vem com todo o seu colorido (acervo pessoal no Rio de Janeiro - Jan 2021)


Por exemplo, passei anos sonhando com ondas gigantes e tinha que escolher entre surfar a onda ou mergulhar dentro dela. Às vezes eu tinha que fugir e levar a minha família para um local seguro. Também sonhava que o mar subia na praia e que tinha uma barreira, tipo uma falésia, que não conseguia escapar e quase me afogava.


Só hoje consigo interpretar esse grito-aviso do meu inconsciente. Poderia resumir com “água mole, pedra dura, tanto bate, até que fura” hahaha Mas, elegantemente, leria como as águas, que representam as emoções, estavam pedindo para eu surfar ou mergulhar na minha própria natureza, mostrando que a resistência só me traria angústia e dor.


Curioso é que os elogios que mais escuto na minha vida como terapeuta são sobre o meu sorriso, sempre espontâneo e acolhedor, e sobre a minha capacidade de acessar as dores das pessoas, ajudando a traduzir e sair de lá com amorosidade. Também é muito exaltada a minha capacidade de percepção de campos sutis, que atualmente está bem mais apurada, ajustada e compreendida.

Hoje em dia o meu sentir é uma das minhas principais “ferramentas” para “servir” ao próximo. É também o que traz a minha felicidade de ser e estar nesse mundo, é como construo as minhas relações e o meu caminhar.

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“Os meus olhos coloridos” (acervo pessoal de jan2021, Rio de Janeiro)


Conclusão

Ainda sei fazer a minha cara de séria. Até o homem aranha precisava de um disfarce de vez em quando, não é mesmo!? Mas o que é libertador é que já posso escolher quando usar o disfarce e quando ser eu mesma.


O resultado é que o choro já vem com parcimônia, que o corpo já não fica mais doente, que as dores que vêm são rapidamente endereçadas, já sinto os fluxos do meu corpo e da lua. Também consigo entender as pessoas que têm medo de sentir, sem julgá-las.


Ah! Já fui chamada de “tradutora de sonhos” e "leitora de almas"… Talvez seja meu Netuno com Saturno e Urano na casa 10 (se me permite aqui um astrologuês heheh)

Talvez seja isso o que eu vim fazer aqui: uma ponte entre o emocional (minha natureza) e o racional (o que aprendi na vida)


E você? Qual é o seu superpoder que passou anos escondido como um defeito?

OU

Qual é o seu “defeito” que pode ser que seja sua grande contribuição para o mundo, quando for bem elaborado, acolhido e amado?

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